segunda-feira, 2 de maio de 2011

Resenha do filme Notícias de uma Guerra Particular

Trata-se de um documentário sobre a violência nos morros do Rio de Janeiro. De um lado a polícia especializada, criada especialmente para combate ao crime nos morros, o BOPE (Batalhão de Operações Especiais). De outro lado, o tráfico de drogas, formado por jovens alistados no próprio morro que sustentam um estado paralelo, ocupando o vácuo deixado pelo Estado Democrático de Direito. E no meio dessa guerra, a população trabalhadora que sofre pelas conseqüências das arbitragens de ambos os lados.


O documentário é imparcial, demonstra todos os lados, mas sem dar opinião quanto à questão. Mas ao contrario do que se retrata nos jornais diários, a questão é bem mais complexa – onde NÃO se sabe exatamente qual lado está com a razão. Trata-se de uma questão social critica que nasce a partir dos absurdos que a política capitalista selvagem provocou na sociedade. O povo excluído e humilhado, que só recebe do Estado o descaso e a repressão passa a ver no tráfico uma saída e uma forma de reagir aos absurdos sofridos constantemente. Os direitos mínimos não são respeitados, os salários e as condições de vida provocam revolta e descontentamento. As pessoas não tem qualquer chance de melhora. Não existe educação, saúde, lazer, saneamento básico, remédios, higiene. O preto pobre, historicamente marginalizado é empurrado para cima dos morros para sobreviverem em condições desumanas e quando se revolta contra tudo isso, e vê nas drogas um modo de financiamento social, não existe quase escolha. Ao ver as péssimas condições se repetirem: ou se arriscar por uma vida de perigos na ilegalidade para alcançar um reconhecimento mínimo ou continuam marginalizados vivendo em péssimas condições de vida.


O jovem nasce vendo sua família sofrer as maiores privações e escassez. Não tem a menor chance de uma vida diferente, a educação está além das suas chances – com fome não se pode pensar/estudar. Logo cedo é obrigado a ajudar de qualquer forma a família no sustento, e o crime é um convite muito mais forte que a pouca moral ou consciência ética social. O consumidor da droga não é o pobre, e sim o filho da classe média que possui recurso suficiente para sustentar o vício. As armas e o dinheiro lhe trás aquilo que nunca lhe foi dado por respeito à vida e a pessoa, o mínimo de dignidade humana.


O conflito é histórico, a polícia inicialmente mal treinada e sem respeito algum pelo cidadão provocou no decorrer de anos de ditadura uma posição autoritária e corrupta. A população se sentiu por décadas alvo do poder opressor, e quando nasce à organização criminosa, enxerga nesta um respeito mínimo já que, agora com as armas, o medo por parte dos policiais quando sobem no morro é evidente. O Estado vendo que perde espaço, cria uma polícia especializada de repressão, mais parecendo um exercito de guerrilha com forte presença de dominação ideológica institucional. Selecionando militares nas polícias convencionais eles abarcam todo um contexto para afastar qualquer inclusão indesejada por meio de um critério de seleção que envolve todo tipo de treinamento físico rigoroso, buscando um tipo especifico de policial mais parecido com um guerreiro que luta incansavelmente e não questiona nunca as ordens.


As baixas são constantes de ambos os lados, a guerra é verídica e fática. A mídia mantém a população em geral sob o domínio sem manifestar reação contra o Estado por uma solução pacífica e benéfica de longo prazo. Faz a população acreditar, que a prisão e a morte do traficante resolverão os conflitos, e deixam de fora o lado social sem mostrar que existe um exército de excluídos dispostos a se arriscar fisicamente neste conflito, a sofrer durante uma vida inteira por um salário de miséria e fome. A população do morro, excluída e desamparada, assiste a tudo sem poder reagir. Vê-se presa em ambos os lados. Desafiar a lei do tráfico é morte certa, por mais contrário que seja na opinião das drogas sabe que se trata de uma reação as péssimas condições de vida ali sofridas. Não consegue desviar seus jovens da marginalidade, da filiação com o crime. Sem perspectiva e esperança fica difícil convencê-los de se manterem longe das armas. A péssima educação, os baixos níveis intelectuais, a forte influência da lei do mais forte (de sobrevivência) provoca nos seus filhos uma tendência constante pela filiação com o tráfico.

5 comentários: