quarta-feira, 13 de abril de 2011

Economia e Racionalidade Ambiental

Por Evandro Brandão Barbosa


Ambiental ou ecologicamente correto é cuidar para que a sua vida enquanto indivíduo tenha qualidade suficiente para durar uma quantidade de anos suficiente para interagir com muita gente, dar muitas risadas, resolver muitos problemas individuais e coletivos e, acima de tudo, participar da construção de um mundo menos solitário. Isso é sustentavelmente praticável, se esse mundo sonhado existir antes dentro de cada ser humano. Se tudo isso parecer uma viagem, o objetivo foi atingido, mesmo antes de concluir a leitura do texto.


O capitalismo criou mecanismos de produção, distribuição e consumo que tornou o sistema econômico auto-sustentado. A utilização dos fatores de produção – capital, recursos naturais e mão de obra – de forma a gerar produtos e serviços capazes de satisfazerem as necessidades das pessoas é o processo natural de qualquer sistema econômico. Porém, a forma de produção, a distribuição e o nível de consumo apresentam-se de forma diferenciada no sistema socialista e no sistema capitalista.


No socialismo a produção é planejada pelo Governo Central; a distribuição dos produtos é administrada pelo Governo e o nível de consumo das empresas e das famílias também é administrado pelo Governo, de forma que a centralização da gestão operacional do sistema econômico pertence ao Governo, pois é este que se considera conhecedor das necessidades das empresas e das famílias, por isso orquestra todo o sistema.


No sistema capitalista, a produção, a distribuição e o nível de consumo são definidos pelos governos, pessoas e empresas; tudo subordinado ao nível de renda de cada um desses agentes econômicos.


As discussões sobre o processo de produção capitalista questionam a forma como os recursos naturais são explorados. Após cinco séculos de existência do capitalismo, o uso ostensivo dos recursos naturais do planeta atingiu nivel tão elevado que alterou e continua alterando o equilíbrio dióxido de carbono na atmosfera, além de causar exaurimento de diversos recursos naturais. Portanto, a necessidade de criar um novo sistema econômico é mais do que urgente; as práticas produtivas denominadas sustentáveis porque utilizam-se da racionalidade no usos dos recursos naturais e na adoção de medidas que buscam garantir qualidade de vida às gerações futuras integram o conjunto de estratégias em busca de um tipo de desenvolvimento adjetivado de sustentável.


Enquanto as medidas paliativas que integram as práticas de sustentabilidade estiverem sendo incrementadas no interior dos processos do sistema capitalista não é possível considerar a existência de um desenvolvimento socioeconômico e ambiental sustentável. Por maior que seja a responsabilidade social das pessoas, das empresas e dos governos por meio de boas práticas ambientais e de racionalidade no usos dos recursos naturais no processo produtivo, o capitalismo não produzirá desenvolvimento sustentável.


Durante uma palestra na Universidade Federal do Amazonas, durante o Seminário de Meio Ambiente, em junho de 2010, o pesquisador, pensador e professor mexicano Enrique Leff, alertou sobre a necessidade de se desenvolver a racionalidade ambiental, como forma de desenvolver um sistema econômico que se relacione com a natureza de forma diferente de como o capitalismo a trata, apenas como fonte recursos a serem explorados para o atendimento de ssitemas produtivos. A economia capitalista não se ecologisará; ou seja, por mais atraentes que sejam os discursos do capitalismo enaltecendo a importância da ecologia, as empresas capitalistas continuarão exaurindo recursos, poluindo e reduzindo a potencialidade da biodiversidade dos ecosistemas. Para isso, alimenta as informações de que o avanço tecnológico será capaz de solucionar os problemas criados pelo sistema capitalista durante séculos.


Portanto, é preciso reconhecer que o incentivo ao consumismo, o dinamismo do avanço tecnológico para produzir sempre mais e a veiculação midiática da necessidade de ampliar as ações da logística reversa de pós-venda e pós-consumo, e, por fim, reverberar discursos sobre a necessidade de redução de emissão de carbono, de eficiência energética e de realização de boas práticas ambientais em busca de um desenvolvimento sustentável, sob pena de fazer o planeta sucumbir, são estratégias do sistema capitalista cujo objetivo é a sua auto-sustentação.


A racionalidade ambiental consiste em respeitar a biodiversidade, praticar a vontade ontológica do ser – querer ser mais – sem desrespeitar o ser do outro; é trocar conhecimentos para aprender mais e viver melhor sem a concorrência que busca estabelecer melhorias para uns e não para outros; é reconhecer que o sistema econômico capitalista não prioriza o meio ambiente e por isso não tem condições de ser reformado para transformar-se em um sistema com racionalidade ambiental. A racionalidade ambiental somente pode ser sedimentada no interior de um sistema econômico e social no qual a solidariedade nas fases de produção, distribuição e consumo esteja consolidada. A busca incessante do lucro, as alianças estratégicas da empresa visando a redução da concorrência e valorização das pessoas com base no nível de consumismo das famílias não combinam com a racionalidade ambiental discutida neste texto.


É nesse contexto que a sociedade se rende aos discursos de desenvolvimento sustentável, porque é interessante, é radiante, é mágico; fazer campanhas em prol da sustentabilidade, plantar árvores, mitigar carbono através de ações de eficiência energética e avanço tecnologico para criar energias alternativas e renováveis; tudo isso é muito empolgante, mas enquanto o sistema for o capitalismo, este permanecerá auto-sustentado, porque sempre soube desenvolver estratégias para isso, porém, a criação de desenvolvimento sustentável não é possível. De medidas paliativas de cunho ambiental, com o objetivo de remendar as ruturas do capitalismo, a comunidade mundial está farta e cheia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário